quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Património Cisterciense. O Colmeal e a arte do mel


Os cistercienses desenvolveram a apicultura nas suas granjas. A partir da segunda metade do século XVIII, a criação de abelhas conheceu um novo fulgor. Frei Nuno Leitão, Geral da Ordem em 1765, manda levantar o colmeal da Granja de Val de Ventos (Turquel) e, por seu turno, a administração do Santíssimo Sacramento adquire um covão de abelhas na Moita, nas imediações da Granja do Campo, no Valado (esta granja já dispunha de um colmeal na Torre). Graças a esta actividade, abundava o doce mel de tão grande utilidade na alimentação (sobretudo na doçaria), nas bebidas fermentadas, na arte terapêutica e a cera com que se alumiava os altares dos Santos, as procissões da Candelária (2 de Fevereiro) e mesmo as habitações. As abelhas ainda contribuíam para a polinização das fruteiras e demais culturas, criando condições favoráveis a uma abastança de frutos.
 Os covões (conjuntos de cortiços ou colmeias) estavam concentrados na área serrana dos coutos, embora também se fomentasse a apicultura nas terras de campo. Frei Manuel de Figueiredo elucida-nos que “há alguns cortiços de abelhas pelos fundos da Serra de Albardos, que produzem o melhor mel deste reino. Também no Camarção (Pataias) e terras de Alcobaça há maiores números de abelhas que produzem mel mais parco”. A geografia apícola coincidia, grosso modo, com as áreas de pastoreio.
Para proteger os cortiços levantavam-se muros apiários. Estas edificações resguardavam os cortiços de predadores como o texugo, a doninha, sapos, cobras e lagartos; abrigavam-nos dos ventos frios; da acção letal dos fogos. A dedicação dos monges a estes insectos laboriosos evidencia-se no extremo cuidado com que deles tratavam. O levantamento de um colmeal pedia uma orientação adequada de forma a evitar os ventos de Norte, Noroeste e Nordeste. Para além desta cautela, separava-se o murado do colmeal da envolvente de mato ou floresta por meio de um valado amplo, com a função de corta fogos. Os cortiços eram devidamente cobertos por telhões.
Os covões tinham guarda destacado. Este homem, para além da vigilância, encarregava-se da cresta, da enxameação, de limpar as colmeias, manter o valado. A receita utilizada para aumentar os enxames nos covões consistia em crestar os cortiços, com um intervalo, de dois em dois anos. Este sacrifício temporário da produção assegurava enxames numerosos e saudáveis. A cresta efectuava-se, por regra, durante o mês de Junho. Para ajudar os enxames a resistir ao Inverno, colocavam-se, nas imediações dos cortiços, tigelas com castanhas piladas cozidas.
O mel da Serra era o mais claro que se produzia em Portugal. Para o conservarem acondicionavam-no em bilhas de barro A receita das colmeias compensava largamente as despesas. O covão da Moita, no ano de 1777, rendeu 12.000 réis em mel, aproximadamente 7% do seu preço de custo (a sua aquisição foi feita por 82.500 réis).
Colmeal de Val Ventos
O colmeal de Val Ventos constituía a maior instalação apícola cisterciense. O muro apiário, com cerca de 20m de largura por 20m de comprimento e 2m de altura, estava situado numa encosta virada para o nascente, alojando-se os cortiços nos vários patamares servidos por escadarias laterais. Este colmeal, que J. Vieira Natividade observou na década de 20, possuía “83 colmeias – 70 cortiços e 13 colmeias móveis”. 
Autor: António Maduro

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