segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

A Real Fábrica de Vidros Cristalinos de Coina



A indústria vidreira em Portugal é anterior à fundação da Real Fábrica da Marinha Grande, pelo inglês Guilherme Stephens, que beneficiou de importante protecção do Marquês de Pombal, nomeadamente subsídios e aproveitamento gratuito da madeira do pinhal do Rei, para aí instalar a manufactura do vidro.
Num jornal do século XIX pode ler-se “A industria do vidro, em Portugal, foi introduzida no século XV, com a fundação de uma pequena fabrica na freguesia de S. Pedro de Villa-Chã, concelho de Oliveira de Azemeis, denominada fabrica do Côvo, pelos annos de 1484. Foi esta fabrica protegida por el-rei D. João II, que lhe deu uma provisão garantindo que não se podesse estabelecer outra fabrica, sem consentimento do dono da primeira, um tal Diogo Fernandes ao que parece. Apesar d´este previlegio, em 1498 estabeleceu-se outra pequena fabrica de vidros em Coina, não se sabe se com consentimento do proprietario da fabrica do Côvo. Esta nova fabrica que a principio pouca produção teve, foi desenvolvendo-se com o andar dos tempos, de modo que em 1580 os seus productos faziam grande concorrencia á fabrica do Côvo, o que obrigou esta a fazer-se valer dos seus antigos previlegios perante D. Affonso.” (http://educa.fc.up.pt).
Forno- escavação arqueolópgica
Desta fábrica de vidros de Coina não encontrámos mais referências. No entanto, sabemos que Jorge Custódio realizou no período entre 1983 e 1990 escavações arqueológicas, em Coina, tendo encontrado vários fornos e um conjunto de vestígios materiais que permitiram reconstituir a produção do vidro nesta localidade. Crê-se tratar-se da Real Fábrica de Vidros Cristalinos fundada por D. João V, em 1719 e que ficou sob administração régia até 1731. A partir desta data até ao seu encerramento em 1747, passou por várias administrações da qual se destaca a do irlandês John Beare, por ter sido no seu tempo que a manufactura foi encerrada em Coina e deslocada para a Marinha Grande, dando origem à tradição vidreira pela qual ficou conhecida esta localidade. A sua instalação em Coina (Barreiro) deveu-se em parte às excelentes condições que o local oferecia: abundância de lenha da Mata da Machada para combustível dos fornos e a pureza das suas areias cauliníferas.
A criação da manufactura vidreira de Coina representava uma tentativa de inovação no contexto da economia do reino, não só porque foi um importante empreendimento, quanto à sua área de implantação (cerca de 4000m2), como pela sua capacidade produtiva, natureza e originalidade dos seus produtos e, ainda, pela mão-de-obra e técnicos estrangeiros especializados na produção do vidro, (italianos, finlandeses, irlandeses, venezianos e alemães) que chegaram a Portugal, recursos que o país não possuía. Estes técnicos formaram uma importante colónia na freguesia e antigo Concelho de Coina.
Fabricou, em três fornos de fusão, vidro branco, vidro verde e chapa de vidro para vidraça e espelho. A frascaria diversa quer comum, quer de laboratório, a garrafaria (entre a qual se encontraram garrafas de tipo inglês para o Vinho do Porto) e o vidro plano pelo processo francês de moldagem em mesa permitem testemunhar o real significado desta manufactura à qual se prende o desenvolvimento moderno do vidro português. Os seus produtos chegaram ao Brasil, à Espanha, à China, concorriam, inclusive, com os vidros ingleses contemporâneos, quando a sua gestão esteve entregue a uma companhia de mercadores britânicos.
         As razões do seu encerramento prenderam-se com questões ligadas a um dos combustíveis que alimentava os fornos do vidro, a madeira, abundante em toda a margem sul e utilizada nas manufacturas da região, desde o abastecimento a Lisboa, à construção naval, aos fornos do biscoito de Vale de Zebro, aos inúmeros fornos de cal existentes que, por si só, eram grandes depredadores dos recursos naturais. De salientar que em Coina também se utilizou pela primeira vez, como combustível, a hulha, importada de Inglaterra. Contra os fornos do vidro esteve o Senado de Lisboa e certamente os interesses locais, pressionando o Monarca para o desfecho que se veio a verificar em 1747. A proximidade do Pinhal de Leiria e a existência de recursos naturais, como as areias siliciosas e argilas, ideais para o fabrico de vidro levaram John Beare, administrador desde 1741, a transferir a Real Fábrica de Vidros de Coina para junto do Pinhal de Leiria, dando assim inicio à implantação desta indústria na Marinha Grande. Até essa altura, a população marinhense dedicava-se principalmente à indústria das madeiras, à manutenção e abate do pinhal.
Depois do encerramento da Real Fábrica de Espelhos e Vidros Cristalinos de Coina e do seu completo desmantelamento, foi instalado no edifício uma pequena indústria de estamparia no último quartel do século XVIII.


Vidro; esmalte policromado Dimensão 14,7 x L. 12,5 cm Inscrição VIVAT JOANNES / V)

Vidro gravado à roda. Dimensão A. 17,6 x L. 7,2 cm, peças do Museu Nacional de Soares dos Reis)

 

Bibliografia

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