segunda-feira, 28 de março de 2011

Apontamentos Históricos da freguesia do Juncal


Há notícias do seu povoamento pelo menos desde a romanização. Foram encontrados vários vestígios materiais atribuídos a povos deste período, nomeadamente moedas romanas, bigatus e quadrigatus, cunhadas por imperadores de Roma, anteriores e posteriores à época cristã. Também há documentos que provam o povoamento de alguns lugares, nomeadamente Andam e Quinta de São Paio, anterior à fundação de Portugal.
Certamente que estes factores, aos quais se associaram outros, contribuíram para que ainda hoje, seja considerada uma das freguesias mais importantes do concelho.

Achados arqueológicos:

Necrópoles primitivas
Para além dos vestígios romanos, há noticias da destruição de uma necrópole descoberta por trabalhadores rurais no dia 15 de Maio de 1865 no sítio denominado Barreiras Caientas, onde foram encontradas várias ossadas humanas, presumindo-se terem pertencido a populações que viveram na Idade do Ferro. Havia uma laje sob a cabeça de cada esqueleto, e estavam todas voltadas para Este. Num local sobranceiro, à parte, encontrava-se uma sepultura cavada na rocha.
Neste mesmo ano figuraram dois exemplares destes esqueletos na Exposição Internacional, enviados pelo lente da Escola Médica do Porto, Dr. Augusto Luso da Silva, que os recebeu do padre António Pereira Louro, natural da hoje freguesia da Calvaria. Junto às sepulturas estavam pequenos objectos de ferro. Perto apareceram mais algumas ossadas e mais alguns objectos de natureza bélica e de pedra.
Nas investigações que se fizeram até à Ribeira a cerca de 200m viu-se uma grande quantidade de ossadas com as cabeças viradas para Nascente. Formavam um conjunto de ossadas pertencentes a pessoas de várias idades. A área deste achado rondaria os 144m2. Aqui apareceu também uma urna de barro vermelho com 77cm de altura, toda atulhada de ossos e que foi totalmente destruída pela curiosidade popular, na esperança de encontrarem algum tesouro. Junto estava um moinho de mão com 66cm de diâmetro e a um metro de profundidade descobriu-se uma calçada muito bem feita e em excelente estado de conservação, com dois metros de largura, tendo-se desaterrado numa extensão de cerca de 60m, na direcção de N/S, paralela à Ribeira.
Hoje, infelizmente, não são conhecidos estes vestígios.

RELIGIÃO
Principais Locais de Culto:
Igreja Matriz – Edifício oitocentista construído num pequeno morro, virado para nascente. Apresenta um frontispício imponente, digno de apreço e de admiração, mais exuberante e rico a nível escultórico que as igrejas da região à sua volta. No pequeno frontão, por cima do frontispício estava e está bem realçada e avivada a “data” de 1780, o que tem levado, creio por equívoco, a considerar este o ano de conclusão deste templo. Pensamos tratar-se de uma data feita a partir de uma simbologia religiosa que existia e que foi transformada incorrectamente em números. Afirmamos isto porque em 2007, aquando de obras de requalificação deste edifício, nomeadamente no decurso da limpeza e lavagem da pedra e da cal, depois de alertados, tivemos a oportunidade de, através da máquina que elevava o andaime, aproximarmo-nos dos três símbolos, hoje tidos como números, feitos em relevo, de onde não constava o algarismo um, e o primeiro símbolo era igual ao algarismo sete, sendo o segundo símbolo parecido com o algarismo 8, mas maior que o sete e com a bola superior maior que a inferior e um pouco aberta. Também o terceiro símbolo não era nitidamente o número zero.
Apesar das dúvidas do que significaria, mas da certeza que não se tratava de uma data, cometeu-se o erro de tornar a desenhar a data de 1780.
O Interior da Igreja Matriz é constituído por uma só nave com dois altares colaterais. As paredes estão forradas com belos painéis de azulejos feitos na própria terra, na Real Fábrica de Cerâmica do Juncal. A capela mor é majestosa, almofadada, com quatro colunas de mármore, medalhões em relevo pintados a óleo, uma bem trabalhada glória de querubins, molduras e talhas douradas dignas de apreço.
Ainda sobre o pórtico principal, a igreja tem um bom trabalho escultórico representando S. Miguel, padroeiro desta freguesia. Festejado tradicionalmente em 29 de Setembro de cada ano, passou a festejar-se ultimamente em data incerta.
Os festejos duram vários dias e para além da parte religiosa há a parte cultural e recreativa. Os festejos são concorridos por muita população. Os festeiros não se poupam a esforços para em cada ano apresentarem um programa festivo variado e rico em actividades de modo a darem grande brilho às festividades.

Capela de S. Miguel do Peral – Pensa-se que se trata da mais antiga Capela do Juncal, construída no século XVI, no sítio denominado Freireta, onde teve origem, segundo se pensa, o primitivo lugar do Juncal.

Capela particular
Na vila do Juncal existe uma capela particular mandada construir pelo devoto Joaquim Caetano na primeira metade do século XX, (1940-42) dedicada ao sagrado coração de Maria. Sobre a porta principal tem um pequeno painel que diz “Doce Coração de Maria sede a minha salvação”. No cunhal do lado esquerdo tem outra legenda que diz o seguinte “à Santíssima Virgem de Nossa Senhora de Fátima, concebida sem pecado original, como preito de gratidão e amor filial, foi levantada esta capela começada em 13/5/1940. A data da construção não foi ao acaso, mas propositada, por ser o dia e o mês em que se iniciam todos os anos as grandes peregrinações a Fátima e o dia em que se comemora o aparecimento, pela primeira vez, da virgem aos pastorinhos. Também cremos que o ano de 1940, foi escolhido por ser o ano em que o Estado Novo, decidiu fazer com grande pompa as comemorações do tricentenário da Restauração da Independência Portuguesa, tendo-se-lhe associado muita população que em muitas freguesias decidiram erigir pequenos monumentos alusivos ao acontecimento, e que certamente este devoto de Nossa Senhora de Fátima se associou.

Capela em honra de Santo António no Andam – No local onde se encontra a actual Capela, restaurada em 1945, já teria havido uma ermida, e que foi transformada em Capela em 1794. A festa em honra do padroeiro realiza-se no mês de Junho.

Capela de invocação de Nossa Senhora da Piedade – Situa-se no lugar do Chão Pardo, parece que foi construída no século XVI, tem boa talha dourada do século XVII e no exterior a lápide seguinte: “Chão Pardo, esta Capela foi reconstruída pelo povo do lugar em 1965 – O presidente da Comissão António Agostinho Amaro”. A imagem da Pietá em pedra policromada, é uma valiosa obra de Arte Sacra quinhentista, digna de maior apreço, à qual antigamente eram feitas romagens de devotos, vindos de toda a região. Esta imagem foi restaurada na sua pintura em 1868.

Capela de Nossa Senhora do Carmo – Situa-se no lugar de Vale de Água, foi construída em 1744, dedicada a Nossa Senhora do Carmo.

Capela de invocação de São Bento – Situa-se no lugar da Boieira, tem duas belas imagens consideradas quinhentistas, S. Bento e Santa Ana, de pedra policromada. A data de 13-3-1856, existente na pia da sacristia, deverá ser a era da ampliação da Capela.

Capela de Nossa Senhora do Amparo – Situa-se na Cumeira, construída em 1874. Anterior a esta, nas proximidades terá existido outra com a mesma invocação e construída por um particular, na Quinta da Bela Vista em 1720, na qual rezou a primeira missa o Padre Teodoro, natural da Cumeira.

Na quinta de Santo Amaro existem as ruínas duma Capela do século XVII que teve alpendre e era dedicada ao Santo que deu o nome à Quinta.
Capela de Nossa Senhora da Conceição – situa-se nos Casais Garridos, com festa no mês de Maio e restaurada na primeira metade do século XX.

No lugar de Picamilho, foi construída uma Capela cuja lápide exterior tem a seguinte inscrição: “Bênção da primeira pedra em 6/6/1976”.

Usos e costumes
Este povo, mais no passado, mas ainda hoje, associava à Igreja as principais acções de interesse público, social e cultural.
Por exemplo, o velho hábito de no mês de Maio, mês consagrado a Maria, os jovens rapazes e raparigas irem alegremente pelos campos apanharem flores silvestres e verduras diversas para juncarem as ruas dessas perfumadas espécies da natureza, culminava sempre com uma colorida romagem à igreja, onde as raparigas iam levar ofertas dentro de açafates devidamente engalanados com essas flores, entoando cânticos apropriados à circunstância. Repetia-se isto todas as tardes dos Domingos de Maio, e os géneros alimentícios das ofertas eram leiloados logo a seguir à função religiosa, com recitação do terço. Hoje, já não se vê.
Outros símbolos da religiosidade destes povos eram os oito cruzeiros em cantaria, existentes em diversos locais do Juncal, ao pé dos quais se parava, rezava ou cantava, quando por eles passavam os funerais. Actualmente alguns desses cruzeiros já não existem.
Outrora, era também costume os Juncalenses oferecerem oliveiras à Igreja, do rendimento dos quais se tirava o azeite para manter a lamparina da Igreja acesa de noite e de dia, e para as despesas do culto o resto que sobrasse.
Em relação a isto conta-se que há cinquenta anos, apareceu um anúncio emanado das autoridades de Porto de Mós, que dizia ir ser vendido em hasta pública todo o olival do “senhor”, do Juncal. Houve naturalmente grande surpresa e inquietação, principalmente por parte do pároco, padre Benevenuto e confrarias da igreja, que se deslocaram imediatamente a Lisboa para junto de instâncias superiores fazerem anular tal venda, o que foi conseguido graças ao empenho das figuras gradas desta freguesia.
Recentemente, quando se precisou de avultadas verbas para as obras de conservação da Igreja matriz, equacionou a Comissão Fabriqueira, colocar à venda este património antigo da Igreja. A decisão de venda destes imóveis deveu-se não só à necessidade de receitas para a conservação e requalificação da Igreja mas também para a conclusão da Casa de Velório que estava a ser construída em terrenos junto à Igreja e no sítio onde se situava o antigo cemitério da paróquia.


Aspectos Sociais
Apesar de nas últimas décadas com enorme rapidez ocorrerem mudanças muito significativas a todos os níveis na sociedade, nomeadamente mudanças relacionadas e introduzidas com as novas tecnologias de informação e comunicação, com os sistemas económicos e sociais à escala global conjugados com o sistema de ensino, na freguesia do Juncal ainda é possível encontrar testemunhos de modos de vida, tradições, usos e costumes que perduram ao longo dos tempos quase imutáveis, mas que hoje, já não existem fora da memória das suas gentes. A vida quotidiana alterou-se desde logo porque o trabalho no campo tem vindo a diminuir, e porque o trabalho agrícola, realiza-se com menos mão- de -obra, sendo hoje poucas as pessoas que nele tem a sua actividade principal. A diminuição de mão-de-obra agrícola tem diminuído como consequência do abandono da terra e também devido à mecanização. Por consequência, o hábito tradicional de entreajuda entre a vizinhança praticamente desapareceu, a organização da vida da comunidade alterou-se, não se vendo ao contrário de outrora, grupos de homens que se organizavam localmente para várias actividades como, consertarem e melhorarem caminhos, limpar linhas e valas de água, regulamentarem o uso e a partilha de água comum para a rega, a limparem e a construírem fontes, a associarem-se de forma informal em sociedades e organizações como: mútuas de seguro de gado bovino, confrarias de socorro e de enterro dos defuntos, a participarem na tradicional matança do porco, a desenvoverem numerosos trabalhos agrícolas. Os mais idosos recordam com nostalgia histórias desse passado, contando-nos com entusiasmo as suas vivências de crianças, da adolescência e da juventude. Recordam trabalhos que também representavam momentos de divertimento: a descamisada do milho e os costumes a ela associados, a debulha do trigo na eira e as voltas que se davam na mesma em cima do trilho - divertido carrocel - , a preparação dos doces e das filhós para a festa da matança do porco, as canções à desgarrada, as cantigas que ajudavam a aliviar a dureza da ceifa ou da apanha da azeitona e as cantigas que comandavam grupos de cavadores por exemplo na plantação de vinhedos.

Personalidades ilustres
Alguns filhos ilustres honraram o Juncal, lutando pelo seu desenvolvimento e pelo bem-estar dos seus conterrâneos e das gentes da terra onde nasceram. Outros, não sendo daqui naturais, por razões profissionais, aqui se estabeleceram contribuindo decisivamente para o engrandecimento desta terra. Não os podendo mencionar neste trabalho todos seleccionei três: um da área religiosa, outro da área cultural/educativa e outro da área económica.
Padre Benavenuto, era natural de Alburitel, concelho de Ourém, mas paroquiou o Juncal cerca de 40 anos, pelo que se interessou muito por esta terra e por estas gentes. Era um excelente organista e sabido na arte de representar.
Rafael da Fonseca Barreiros Calado, que pelos seus elevados dotes naturais, se destacou nas Artes, nas Letras e em actividades económicas. Foi excelente artista, jornalista, poeta, historiador, agricultor e industrial.
Na sua casa, antigo solar do Correio Mor, reuniu e se encontrava com as mais diversas figuras de relevo do seu tempo, da literatura, história, arqueologia, etnografia etc. Do que deixou escrito destaca-se “Leiria e a Reforma Administrativa. Representação ao governo do Estado Novo –Composto e impresso na tipografia Mendes Barata (Leiria) em 1936; A Fonte Santa; Lenda de Nossa Senhora da Nazaré; Perfil da Condessa d ella Madrastra Del Rei d. Luís I, 1886; e deixou numerosas gravuras de monumentos, paisagens e riquezas do distrito. Divulgando e enaltecendo as potencialidades sócio-económicas e os atractivos de interesse turístico do Juncal, ele interessou-se como ninguém, pela defesa e preservação dum vasto espólio de raro valor arqueológico e etnográfico. Recentemente seu nome foi, muito justamente, atribuído a uma rua do Juncal.

João Coelho da Silva, importante industrial de barro vermelho, tendo sido fundador da fábrica João Coelho e filhos existente no lugar da Cumeira, nesta freguesia e que é hoje, uma das mais modernas e maiores empresas do sector, exportando já uma parte significativa da sua produção para vários países e continentes. Foi distinguido e condecorado por um ex Presidente da República na área empresarial. Além da sua inteligência e ousadia na área do empreendedorismo, revelou-se também como um dos maiores filantropos da região. Muito amigo da sua terra, Juncal, e das suas gentes apoiou materialmente várias instituições públicas que contribuíram e contribuem para o engrandecimento do Juncal, e lutou pelo seu desenvolvimento e pelo bem estar da população. Reconheceu a população a ajuda e o apoio desinteressado deste Homem e homenageou-o com a colocação do seu busto no largo existente junto à sede da Junta de Freguesia.
Além destas personalidades que individualizei, importa referir outros que de forma colectiva se distinguiram, entre eles os cerca de trinta combatentes que tomaram parte na primeira grande guerra, ou recuando duzentos anos no tempo os que devido às
às invasões francesas que atingiram intensamente a freguesia do Juncal, resistiram até à morte, e foram muitos.




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