Os Bailes
Os bailes constituíam, até meados do século XX, para a mocidade das aldeias a principal forma de divertimento. Havendo muitas raparigas numa determinada aldeia era sinónimo de aí se realizarem muitos bailes e de bailes com sucesso. O local de realização do baile poderia ser uma eira, um terreiro público, um celeiro vago, um armazém particular etc.
Os organizadores dos bailes, eram alguns rapazes, que contratavam um tocador de concertina. Havia bailes afamados por serem muito concorridos por gente da terra e ainda rapazes de fora. Num canto do salão improvisava-se um bar onde se vendia vinho, laranjadas e pirolitos, acompanhando as bebidas com tremoços.
Apesar das entradas serem francas, para angariação de receitas para pagar ao tocador e eventualmente haver algum lucro destinado a uma jantarada para os organizadores, vendiam-se as modas. Um dos organizadores leiloava as “modas”. Antes de cada dança, leiloava a dança seguinte e o rapaz que lançasse maior valor, ficava com o direito exclusivo de autorizar os rapazes que podiam dançar essa moda, ficando ele com a total liberdade de escolher a rapariga que mais lhe interessava. Esta, se não gostasse do par não era obrigada a dançar com ele, no entanto, caso se recusasse, não poderia dançar essa moda, mesmo que o desejasse fazer com outro rapaz. Esta prática levava à competição monetária entre os rapazes, sobretudo entre os que eram menos apreciados pelas raparigas, uma vez, que se lançassem mais que os outros poderiam impedi-los de dançar, e caso elas aceitassem dançar com eles, representava motivo de satisfação e de orgulho. Muitas vezes, esta prática dava a conhecer o dinheiro que os rapazes possuíam no momento do baile. Ao revelarem interesse, lançavam até onde podiam ir, e podiam ir até ao dinheiro que possuíam. Alguns ficaram conhecidas por uma alcunha que correspondia a uma quantia monetária. Assim “sete e quinhentos”, “trinta”, são nomes pelos quais são conhecidos alguns homens que frequentavam estes bailes. Com os lucros obtidos os organizadores, após o baile iam para uma taberna da aldeia conviver à volta da mesa, comendo uma patuscada.
À volta da sala de baile era colocada uma fileira de cadeiras ou bancos corridos para as mães das raparigas se sentarem. A maior parte das mães não autorizavam a presença da filha no baile sem o seu acompanhamento. Observavam os rapazes que dançavam com as filhas e incentivavam-nas ou desaconselhavam-nas no seu envolvimento com um determinado rapaz. Assim, empurravam-nas para o casamento se o rapaz fosse referenciado por pertencer a boas famílias. Caso contrário, interditavam a empatia. Pertencer a boas famílias não era apenas uma questão dos valores que essa família praticava. Era também a posse de bens, geralmente terras agrícolas que possuíam. Procurava-se que a família do rapaz possuísse terras, que deveriam ser vir de dote e eram a garantia dum bom futuro. Além da regularidade com que se faziam os bailes nas tardes de Domingo, excluindo o tempo da Quaresma, onde os mesmos eram interditos, também os havia sempre em festas de casamentos e no dia de Entrudo.
Professor Manuel Carvalho
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