quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Património cisterciense. Os Moinhos do Mosteiro de Alcobaça



            A difusão do engenho de água teve nos cistercienses parte interessada. Os “monges agrónomos” souberam, de facto, aproveitar o motor hidráulico e explorar os seus usos, aplicando-o nas suas granjas na moagem dos cereais, mas também para derreter a azeitona, na moenda de casca para curtumes, para fabricar a mostarda, em pisões e fulões, na serração de madeiras, nas ferrarias.
            As unidades de moagem hidráulica afectas aos domínios senhoriais destacam-se pela localização, tipo de estrutura e pelo número de “engenhos correntes e moentes”. De preferência, tomam assentamento nos rios de caudal permanente, escolhendo, estrategicamente, as quedas de água para ampliar a força motriz. São servidas por um açude de pedra que não só aprovisiona a água como constitui uma guarda contra cheias. Os imóveis são de pedra crua, com ou sem reboco, e a cobertura de telha. Raramente dispõem de menos de três pedras.
            Para moer diariamente o grão contava-se com a energia das águas e dos ventos. No território dos coutos, os engenhos tocados a água, (falamos dos moinhos de rodízio e azenhas), tomavam a parte de leão na nobre tarefa de reduzir o cereal a farinha.     Os moinhos de vento assumiam uma posição secundária, cabendo-lhes, sobretudo, o papel de substitutos das pedras que o estio, ao fragilizar as correntes, inibia para a moenda.
Era no rio Alcoa, nomeadamente entre a nascente e as quedas de água da Fervença, que estavam instaladas as principais casas de moinhos do Mosteiro. A saber, o conjunto da granja de Chiqueda com seu lagar de azeite e moinho (mais tarde conhecido por moinho Constitucional), depois da ponte de pedra, a jusante dos olhos de água em Chiqueda de Cima; o moinho das Freiras de Cós, junto à ponte das Freiras em Chiqueda de Baixo; o moinho do Mosteiro ou da Cerca de Dentro; o moinho da Praça, junto à ponte da Praça; e, finalmente, o complexo da Fervença (Maiorga) com os seus três moinhos e lagar de azeite.
Em média, estes moinhos dispunham de três a quatro casais de mós (quando o número é par, vemos duas alveiras ou trigueiras e outras duas segundeiras para derreter o milho, o centeio e, por vezes, também a cevada), com a excepção notável do moinho da Praça que revolucionava oito pedras.
Com a extinção da Ordem e a venda dos bens em hasta pública verifica-se a transferência destas unidades de produção para as mãos de alguns notáveis locais. De entre os novos proprietários sobressai Bernardo Pereira de Sousa que adquire os conjuntos de Chiqueda e da Fervença, o que lhe concede uma posição dominante na moagem de cereais e produção de azeite.
Assiste-se a uma tendência para reformar as unidades de maior capacidade. Os investimentos canalizam-se quer para obras nos açudes e reforço dos engenhos de rodízio (de uma a duas pedras), quer para a substituição integral do aparelho motor, transformando o moinho de água numa azenha. A par deste fenómeno dá-se a democratização da moagem, multiplicando os engenhos no viso dos montes e no leito das ribeiras e concedendo por fim ao moleiro o estatuto de proprietário.
            António Valério Maduro

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