segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Rafael Calado –Breve Biografia.


O Homem

  
Rafael da Fonseca Barreiros Calado nasceu a 27 de Dezembro de 1888, no Juncal. Era filho de José Francisco Barreiros Calado, natural de Porto de Mós e de Mariana da Conceição Fonseca Horta, do Juncal e filha do último proprietário da Real Fábrica do Juncal.   Estudou nos Liceus de Leiria e de Santarém e ainda na Universidade de Coimbra mas não chegou a completar qualquer curso superior. Casou aos 40 anos com Perpétua da Silva Galvão com quem teve 5 filhos, tendo falecido precocemente aos 54 anos de idade, repentinamente. Herdou dos seus pais um vasto número de propriedades agrícolas, nomeadamente com cultivo de oliveira e cereais e, ao que parece, terá sido a doença das vinhas, a filoxera , que o terá incomodado bastante contribuindo para o problema cardíaco que o afectou e lhe deu a morte. No entanto, este juncalense destacou-se pelas suas qualidades de poeta, investigador, publicista e coleccionador. Impressiona o número de obras de que mostra ter conhecimento nos seus apontamentos. Privou de perto com personalidades importantes como é o caso do poeta leiriense Afonso Lopes Vieira que, inclusivamente, lhe ofereceu obras suas autografadas.



O Poeta

Apesar de apenas ter publicado um ou outro poema em jornais da região, Rafael Calado escreveu vários poemas que se encontram entre os seus papéis manuscritos e que eram dedicados à sua esposa, como “Pôr-do-sol”:

O pôr-do-sol! A hora em que te via! ...
A hora por que eu tanto suspirava…
Ai deixai-me sentir, como eu sentia
Deixai-me assim, sonhar como eu sonhava.

Se a chama dos teus olhos me fugia
Logo em minh’alma a luz se enuviava
Tu eras o sol que se escondia
Só por não quereres ver como eu te amava.

Mas ele, o sol, também quando se inclina
Deixa sempre uma chama cristalina
Na saudade que inspira ao coração.

(Rafael Barreiros Calado)

Escreveu também poemas dedicados a outras personalidades como é o caso de “Homenagem a Herculano” de que existe um exemplar no Arquivo Distrital de Leiria.

O Artista

Embora não tenha feito nenhum curso específico de artes, Rafael Calado dedicou-se bastante ao desenho, nomeadamente de monumentos, casas e pessoas. Também a maioria desses desenhos acabou por ficar acumulada entre os seus papéis. São, no entanto, conhecidos alguns estudos, por exemplo sobre o Mosteiro da Batalha em que projectou a conclusão das Capelas Imperfeitas e que foi recentemente publicado na capa de um livro do Sr. Travassos dos Santos “Apontamentos para a História da Batalha”, volume II. Mas desenhou muitos outros monumentos, como o Castelo de Porto de Mós e palacetes.

O Investigador/Escritor

Publicou diversos artigos em jornais e revistas, fruto da sua extensa investigação, como " A capela dos Mareantes no Mosteiro da Batalha" uma separata da revista “Portucale”, volume XIV, publicada no Porto, em 1941, com fotos de Américo Cortez Pinto. Nesta separata, Rafael Calado apresenta um estudo sobre uma capela do Mosteiro da Batalha que terá sido destinada por D. Duarte, que continuou as obras depois de seu pai, D. João I, para sepultar os Navegadores que tinham participado nas viagens dos Descobrimentos.

Outras  obras publicadas:

Homenagem a Herculano (versos), em separata
Leiria e a Reforma administrativa. Representação ao Governo do Estado Novo, ilustrada com fotos do Distrito, em 1936.
Batalha, na “ Revista Mundo Português”, n° 41,42 e 43 em 1937.
Porto de Mós, O Castelo de Porto de Mós, Juncal e a sua Cerâmica, artigos publicados no semanário leiriense “União Nacional.
Sobre este assunto fez também uma palestra no Teatro D. Maria Pia, em 1937, em Leiria.

Era sócio da Biblioteca Nacional e da Sociedade de Geografia, com sede em Lisboa, o que leva a pensar que ali se deslocava muitas vezes para procurar documentação sobre as mais diversas matérias. Aliás, publicou no Diário de Lisboa, diversos artigos sobre o Mosteiro da Batalha
Deixou muitos artigos manuscritos como apontamentos sobre o Distrito de Leiria, Torres Novas e o seu termo, A Fonte Grande em Leiria, A Real Fábrica do Juncal…

O Coleccionador

 Rafael Calado percebeu a importância da preservação do património e recolheu um vastíssimo espólio:
- Peças de cerâmica da Real Fábrica; para além das que havia na família, comprou e trocou objectos de cerâmica por todo o país.
- Documentos da fábrica e dos seus proprietários.
- Moedas e outros objectos romanos encontrados numa propriedade da família, alguns dos quais se desconhece o paradeiro.



O Empreendedor

Dedicou-se à agricultura e a actividades com ela relacionadas. Tinha uma enorme adega para a produção do vinho e foi ele quem primeiro construiu um lagar de azeite de prensa hidráulica que motivou um comunicado à população, mostrando as grandes vantagens da produção de azeite naquele tipo de equipamento.

Maria  Filomena Martins
( Natural do Juncal, licenciada em História pela Faculdade de Letras de Coimbra.

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