Agricultura
A nível económico apesar da agricultura nas últimas décadas estar a passar por algumas dificuldades e muitas explorações agrícolas estarem a desaparecer, a freguesia do Juncal é a freguesia do concelho de Porto de Mós, que regista segundo os dados do último recenseamento agrícola (2009), o maior número de explorações agrícolas e aquela onde algumas explorações têm vindo a aumentar a área agrícola a fim de terem viabilidade económica. É também a freguesia do concelho onde algumas explorações (poucas) praticam hoje, uma agricultura virada para o mercado, no ramo da fruticultura explorada segundo o modelo capitalista, enquanto nas outras freguesias se está novamente a verificar uma agricultura de subsistência e de autoconsumo, ao mesmo tempo que se está a praticar uma agricultura de lazer que visa complementar o rendimento familiar obtido nos sectores secundário e terciário e ao mesmo tempo a valorização ambiental. A população que trabalha na agricultura é predominantemente idosa e fá-lo não tanto por viabilidade económica desta actividade mas por afectos à terra e respeito pelos que da terra fizeram o seu modo de vida, que com enorme esforço a conquistaram e que a todo o custo a mantiveram e quiseram deixar como herança aos vindouros. Hoje, a terra agrícola representa mais que um bem económico. Representa também um valioso património social e cultural. Contudo, na freguesia do Juncal, a importância que a agricultura sempre teve ao longo da sua história é ainda visível nos nossos dias sobretudo no sector frutícola, actividade, que nos lugares do Andam e Casal do Alho têm maior expressão e visibilidade quer através dos pomares existentes e cuidados, quer pelos vários armazéns privados de conservação de fruta, quer ainda pelo associativismo. Também o solo e o subsolo têm produzido riqueza significativa na área de extracção de argilas importante matéria prima para a indústria da cerâmica de barro vermelho, de louças e porcelanas.
Artesanato e Indústria
O principal ramo artesanal do Juncal foi, e é ainda, a cerâmica. O mais antigo e importante registo escrito ligado a esta actividade remonta ao século XVIII. Trata-se de um documento que refere que por mercê do Marquês de Pombal e pelo dinamismo de um arquitecto de origens no Juncal, se fundou uma grande e fluorescente indústria cuja actividade decorreu entre 1770 e 1876 e que para aqui atraiu de vários pontos do país hábeis artesãos no trabalho do barro.
A Real Fábrica do Juncal como passou a denominar-se, alcançou elevado nível de produção e de prestígio. Clientes de todas as camadas sociais desde clérigos a nobres, almocreves e até simples camponeses, procuravam com ansiedade os produtos desta conceituada fábrica. De S. Martinho do Porto saíram muitas embarcações carregadas de louça do Juncal para o Alentejo, Algarve e outros destinos. Nesta fábrica foram produzidos, entre outros, os painéis de azulejo para a igreja matriz do Juncal, do Convento dos Capuchos, de Alcobaça em 1783, da Igreja dos Milagres, Leiria 1795 e dois registos representando Santo António e Nossa senhora da Piedade, em Rio Maior, 1814. Além dos azulejos produzia louça utilitária e jarras de altar. Sobre as jarras de altar, encontrámos no inventário feito em 1854 aos bens da Igreja da Paróquia de Azoia, uma rubrica onde consta que esta igreja possuí várias jarras de pó de pedra e outra, onde se menciona existirem "14 jarras de louça do Juncal". Esta distinção das jarras atesta a reconhecida importância que as mesmas já teriam, daí diferenciarem-se no inventário. Esta informação serviu-nos para as procurarmos. Encontraram-se seis, armazenadas num anexo da Capela de Santo António do lugar de Alcogulhe, destinado a arrumos. A fábrica foi fundada por José Rodrigues da Silva e Sousa, que deixou a profissão de arquitecto para se dedicar à indústria da cerâmica.
Alguma semelhança de estilo entre a louça do Juncal com a da Fábrica do Rato em Lisboa deve-se ao facto do Dr. Joaquim Rodrigues, irmão do fundador, ter vindo daquela fábrica para o Juncal, sendo autor dos melhores quadros de azulejaria juncalense.
Dos privilégios concedidos pelo Governo de então ao pessoal desta empresa de carácter industrial e ao mesmo tempo didáctico, ressalta a isenção do serviço militar para os mancebos que nela trabalhassem, como estímulo à aprendizagem e à especialização de gente jovem, da arte da cerâmica.
Este estímulo, para a profissionalização e formação para o trabalho da cerâmica e outras actividades ligadas à construção civil está a ser retomado através de cursos profissionais a funcionarem no Instituto Educativo do Juncal, nomeadamente os Curso Profissional de Análises Laboratoriais de Química e de Desenho de Construção Civil
CS - COELHO DA SILVA |
É provável que a actividade da cerâmica na região tenha já existido no período da ocupação romana, pois na região foram encontrados vários vestígios, como estelas funerárias e moedas romanas o que significa que aqui houve ocupação deste povo que possuía grandes conhecimentos sobre fornos de cerâmica, quer para consumo local quer para abastecer mercados urbanos. Importa pesquisar no campo e em materiais já recolhidos pesos de tear, etc. que possam ter inscrições.
Contudo, nos últimos anos e no momento presente a indústria da cerâmica quer de construção quer decorativa, atravessa a a pior crise conhecida no sector, tendo encerrado a grande maioria das pequenas e médias empresas que foram criadas, muitas delas em instalações improvisadas em garagens, barracões e quintais sobretudo nas década de setenta e oitenta, quando o sector da cerâmica decorativa registava encomendas elevadas. Com o nascimento de muitas dessas pequenas empresas que não tinham condições técnicas para poderem evoluir e que apenas se limitavam a copiar modelos, não havendo aposta na criação e na inovação, rapidamente o mercado ficou saturado com este tipo de produtos, começando a faltar as encomendas, também por via da concorrência da produção chinesa que faz produtos de idêntica qualidade por preços muito inferiores. Assim, hoje, restam duas ou três empresas de cerâmica de decoração, que tem vindo a reduzir o número de operários. Relativamente à indústria de cerâmica para materiais de construção, idêntico processo se verificou, havendo neste caso uma ou duas grandes empresas que devido à aposta na inovação tem aumentado a sua produção e o seu volume de negócios.
Resina, curtumes, cal, carvão, alfaias agrícolas, ferramentas para resineiros, eram actividades importantes outrora na freguesia do Juncal e que desapareceram.
Floresta
Um sector económico que ao longo do tempo foi muito importante nesta freguesia foi o florestal. A floresta ocupa ainda hoje uma área significativa do seu território. É composta essencialmente de pinhal e também eucaliptal. A existência de pinhal proporcionou abundância de matéria-prima para o surgimento de serrações de madeira, para a exploração de resina e para a actividade de tanoaria. Hoje, estas actividades ligadas à floresta, por razões várias estão a desaparecer, tendo a tanoaria morrido há várias décadas. Abundavam matas de carvalhos e muitos carvalhos em pés dispersos, que produziam madeira para construção, para mobiliário e sobretudo casca para utilizar na preparação de curtumes. No Juncal, segundo informações e vestígios materiais, existiu uma indústria de curtumes da qual foi encontrada uma mó de pedra para moer a casca de carvalho necessária à preparação dos curtumes e que se encontra actualmente no museu de Porto de Mós.
Quanto à resinagem, foi uma actividade desenvolvida por muitos juncalenses na região, e por ser uma actividade em expansão até à década de setenta do século XX, levou a que muitos homens saíssem para regiões distantes, onde abundavam pinhais, e aí exerciam o seu trabalho de resineiros entre os meses de Fevereiro a Novembro. Muitos acabaram por se fixar coma sua família definitivamente nesses locais. Ligada a esta actividade estavam várias gerações de famílias. Ainda hoje, há por muitos sítios do País, habitantes cujas raízes se encontram nesta freguesia e que fizeram a sua “diáspora” por causa desta actividade.
Pecuária
Paralelamente e relacionada com a agricultura e com a indústria quer do barro quer dos curtumes teve grande importância a pecuária, nomeadamente de gado bovino. Estes animais eram necessários para os trabalhos agrícolas, para fazerem girar as galgas dos lagares de azeite, as noras, para transporte de mercadorias e para amassar o barro. Também forneciam algum leite, embora este fosse essencialmente destinado às crias. O gado bovino de aptidão leiteira só se verificou a partir da década de setenta do século XX e na freguesia do Juncal não registou expressão significativa. Mais significativo foi a criação de gado azinino, espécie animal existente praticamente em todos os agregados familiares e em todas as explorações agrícolas, dado a sua utilidade para transporte de mercadorias e de pessoas. O gado equino também existia sobretudo nas famílias mais abastadas, sendo um sinal de prestígio e até um elemento de distinção social. Com o desenvolvimento da maquinaria, sobretudo a partir da segunda metade do século XX, o uso da força animal foi desaparecendo e foi substituída por tractores agrícolas, carrinhas, motores diversos e outras máquinas. Nas décadas de setenta e oitenta do século passado verificou-se o surgimento de algumas pecuárias de média dimensão na produção de suínos, actividade hoje igualmente em decadência e praticamente inexistente.
Manuel Carvalho (professor de História do Instituto Educativo do Juncal)
Árvores de fruto
As árvores de fruto mais divulgadas até meados do século XX na região, eram as figueiras e os abrunheiros. Além disso, havia alguns pés dispersos de: pereiras, macieiras, nespereiras, marmeleiros,laranjeiras etc. Mais frequentemente duas ou três parreiras armadas sobre umas varas de pau ou vigas de ferro chumbadas na verga da porta de acesso à cozinha em pleno pátio. Estas destinavam-se mais do que produzir frutos, fazer sombra. Decorrente da existência das parreiras junto à casa utilizavam os moradores quando estavam afastados da moradia e pretendiam e despedir-se de alguém a seguinte expressão “ DEIXA-ME IR ATÉ AO MEU PARREIRAL” . Os frutos eram para auto-consumo e para venda nos mercados locais. Os primeiros frutos eram muito bem guardados por que despertavam o apetite, do qual os adolescentes e jovens, sempre atrevidos e ousados, não conseguiam renunciar, e por isso sempre que podiam lhe deitavam a mão. As árvores de fruto eram autóctones e perpetuavam-se ao longo dos tempos. Contudo para melhorar produções e aumentar a diversidade de frutos frequentemente recorria-se às técnicas de enxertia. Muitas vezes, arbustos e árvores “selvagens”através da enxertia obtinham-se boas árvores de fruto. Por exemplo o espinheiro dava excelentes pereiras.
A partir de meados do século XX, e a partir do centro de Investigação fruteira Vieira de Natividade, com a criação dos pomares de macieiras e pereiras sedeado bem perto de nós, em Alcobaça, dá-se uma transformação na agricultura local. Os pomares passam a ocupar exclusivamente o solo. Há a especialidade cultural. O rendimento destes pomares para o cultivador ultrapassa em muito o dos tradicionais olivais e vinhedos, procedendo-se ao arranque destas culturas permanentes e substituem-se pelos pomares.
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