Trabalhos colectivos e entreajuda
Além do trabalho colectivo, na recuperação de caminhos vicinais e públicos, na limpeza e conservação de Barreiros e lagoas, de acudir a um incêndio numa casa ou palheiro, (os incêndios florestais não aconteciam até à década de oitenta), há a registar a colaboração voluntária da vizinhança e de familiares em trabalhos agrícolas ou trabalhos relacionados com construções particulares. Ao falarmos em trabalhos colectivos, referimos também tarefas cuja realização por uma só pessoa levaria tanto tempo que a utilidade do trabalho acabaria por se perder por não ser possível satisfazer as exigências das condições de tempo ou do calendário agrícola, nem atender ao andamento ou ao estado das culturas agrícolas. De facto, este tipo de entreajuda designado nestas comunidades locais por “troca de trabalho” ou “andar a mercer”, ajustava-se às exigências dos trabalhos agrícolas sazonais, quando as culturas apresentam um grau de desenvolvimento que implica, muitas vezes, a necessidade de actuar de forma rápida e atempada. Assim, algumas mulheres, “trocavam” manhãs, tardes ou dias inteiros, unidas em esforço e em espírito de auxílio. Iam mondar as searas, ceifar as culturas forrageiras e ervas espontâneas, ceifar as searas de trigo e de aveia, vindimar, colher a azeitona. Havia ainda trabalhos que se faziam em grupo formado espontâneamente, quando se desconfiava que o tempo não estava seguro, e o vento, a formação repentina de nuvens carregadas, anunciavam uma trovoada. Rápidamente juntavam-se vizinhos para acautelar a aveia forrageira que estava a secar ao sol, protegendo-a da chuva, construindo, logo ali, medas. Também o trabalho de debulha de cereais e de malhar as leguminosas na eira eram objecto de frequente ajuda. Ainda descamisar, malhar e descarolar o milho, atraíam a vizinhança.
Trabalhos que necessitassem de muita gente, como a subida da telha para cobrir a estrutura de madeira dum telhado, eram planificados para um dia em que havia disponibilidade de muita gente, geralmente um Domingo. Após a conclusão do trabalho o dono da obra oferecia uma merenda aos colaboradores, onde não faltava abundância de vinho.
Já um trabalho agrícola realizado ao Domingo ou Dia Santo era considerado pecado e explicava-se às crianças que a mancha mais sombreada que se observa na lua cheia, representa um homem carregando um molho de silvas nas costas, castigo imposto por Deus, pelo facto de ter procedido à limpeza dum silvado num terreno ao Domingo.
Muitas vezes, o início do trabalho colectivo era anunciado com o lançamento dum foguete. A solidariedade não se verificava apenas no combate a um incêndio, na colaboração na colocação de um telhado, num trabalho agrícola, mas também quando acontecia um acidente.
Verificava-se sobretudo após o acidente. Contribuía-se sobretudo com tempo mas também com bens materiais e por vezes com dinheiro.
Também os casamentos exigiam a solidariedade da família e da vizinhança. Vários dias antes começava-se a preparar a boda. Homens preparavam o espaço, geralmente um barracão, preparavam mesas e bancos matavam as cabras, os coelhos e as galinhas, enquanto as mulheres emprestavam as loiças, os tachos e as panelas e providenciavam em tudo o que fosse necessário para a confecção dos alimentos, nomeadamente em amassar e cozer o pão e a broa, pelo que se utilizavam vários fornos .
Professor Manuel Carvalho
Professor Manuel Carvalho
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